quinta-feira, 14 de maio de 2009

Relato da dor

Date: Thu, 14 May 2009 16:16:03 +0000
From: Adriana Ataide
To: anabraga.pe@diariosassociados.com.br
Subject: Desabafo de mais uma vítima!

Ana Braga,
Faço um desabafo como cidadã e vítima da violência de Recife.Em 28 de Novembro de 2007, às 16:00hs na av Norte, enfrente ao SESC (sentido bairro/centro) sofri uma tentativa de assalto da qual levei um tiro na cabeça!
Parei no sinal, tinha um carro na minha frente, e ví quando dois indivíduos corriam na minha direção, um deles passou e o outro veio para a frente do carro quando levantou a blusa e eu ví o cano do revólver. Numa atitude instintiva arraquei com o carro, bati no carro da frente e ainda consegui (baleada) dirigir até minha casa, que era na mesma rua onde morava o professor Igor Duque. O carro da frente me seguiu sem entender o ocorrido e com a ajuda de uma visinha minha me socorreram. Me levaram para o Agamenon Magalhães para os primeiros socorros e fui transferida para o Hospital da Unimed, onde recebi o atendimento devido.
Atuamente faço tratamento psicológico no Agamenon Magalhães (Wilma Lessa), acompanhamento neurológico e psiquiátrico. Temo todos os dias pelos meus parentes e amigos. É como se tivessem me levado a liberdade.
Hoje mais uma família foi dilascerada pela violência de Recife. Só quem passa sabe a dor!Mais uma tentativa de assalto, mais uma vítima, mais uma reação instintiva de sobrevivência, pois eu arraquei com o carro não foi por medo de que levassem os meus pertences, mas por medo de que levassem a minha vida, o que acredito que tenha acontecido com o professor quando acelerou o carro.
Somos obrigados a ver uma propaganda na TV, meramente política, dizendo que a violência diminuiu. Diminuiu onde? Na esquina das casas dos políticos que tem policiamento? Só se for, por que vemos todos os dias mais pessoas sendo vítimas e com sequelas gravíssimas, como o caso de um conhecido meu que levou um tiro no ouvido e hoje encontra-se em estado vegetativo, a policial que levou um tiro na cabeça em Abril do ano passado e está no mesmo estado.. e muitos outros casos que não tomamos conhecimento e famílias estraçalhadas pela dor!
Quando isso vai parar? Quando vão ver que a cidade anda refém da criminalidade? Somos livres, porém não temos liberdade, pois saímos e não sabemos se voltaremos para as nossas famílias.
Choro de dor por ter passado, e por ver mais uma família chorando, choro de revolta e de inconformidade.E peço sempre a Deus proteção, e peço também conforto para as famílias que estão passando por essa dor!Deixamos de ser casos isolados!Precisamos fazer alguma coisa!

Adriana

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