sexta-feira, 29 de maio de 2009

Desafio verde


Encontrei essa cena quando visitei nesta semana a Escolinha de Futebol do Nel, no bairro de Várzea Fria, em São Lourenço da Mata. A iniciativa treina 120 meninos voluntariamente. Fora do campo, um cidadão desafiou outro a plantar uma árvore. A princípio dois desafetos, eles se uniram nesse propósito verde. Quem ganhou foi a comunidade. Quando crescerem, as espécies vão, no mínimo, colocar sombra no campinho de futebol do município escolhido para ser subsede da Copa do Mundo de 2014. Esse sim um desafio danado, que precisa dar bons frutos à cidade, certo?

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Jogo de damas

No labirinto da galeria comercial do também labiríntico edifício Holiday, em Boa Viagem, encontrei essa dupla jogando dama. Olhando assim, o tabuleiro parecia calmo. Parecia que tinha concentração. Mas o cabra da direita, de camisa azul mais escuro, era um chato. De tanto apurrinhar o adversário, virou o jogo. Ganhou a partida de três com uma provocação repetida exaustivamente: "esse aí, madame, é igual a cavalo de bandido. Corre, corre, corre pra morrer no final". Falava tanto que dava com as línguas entre os dentes. Mas na vida é mais ou menos assim, né? Tem gente que ganha no grito. "A madame tem cara que sabe jogar". Até sei, mas não desse jeito, camarada.

Polícia vira-lata

Fui a Caruaru ver como estava o pessoal que perdeu a moradia na enchente do início do mês. Poça vai, poça vem, encontrei o catador de lixo João da Conceição para conversar. Ele e cinco famílias estavam abrigados numa escola municipal.
- Moça, tem umas nove crianças aqui, mais uns 23 adultos e uns cachorros, que já eram da gente ou então se juntaram no meio do caminho.
- (olhei em volta da quadra da escola e vi, por baixo, uns seis vira-latas).
- A senhora sabe que cachorro é polícia de pobre, né?
A foto é de Alcione Ferreira, que me acompanhou em Caruaru.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Os cães ladram e a caravana passa

Conheci o Maestro Givanildo na Bomba do Hemetério. Eu procurava olhar o carnaval do que chamamos de "periferia". Pois bem, desse terreno fertilíssimo, criativo e inquieto da zona norte do Recife, ele sacou uma ideia, no mínimo, louvável. Criou a Caravana de Luz Cultural. A iniciativa tem, segundo ele, a "missão de distribuir saberes e trocar conhecimento nas mais diversas linguagens". Viajam pelos municípios do interior de Pernambuco atores, dançarinos, pintores, cantores, filósofos, pesquisadores, poetas, maestros, professores e estudiosos. O negócio é doar o que cada um tem. Quem de nós faz isso? Na caravana, todo mundo vai de graça, pelo simples exercício da solidariedade e pela tranquilidade responsabilidade social. Coisa de gente corajosa e desapegada mesmo, viu? De cada prefeitura visitada, os caravaneiros recebem apenas a guarida e o transporte. É só chamar. Que tal oferecer o seu saber? Para isso e mais informações, deixo aqui o email do Maestro Gil (givanildo.amancio@gmail.com) e o site da iniciativa (www.caravanadeluzcultura.blogspot.com).
As próximas paradas da caravana são: Capoeiras (de 22 a 24 de maio) e Caetés (de 5 a 7 de junho).

Ps: deixo aqui o testemunho do pessoal da cidade de Tabira. 
http://www.prefeituratabira.com.br/index.php?exibir=noticias&ID=16

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Introdução

O texto publicado logo abaixo, a que dei o título de Relato da dor, não é meu. É de Adriana Ataíde. Não a conheço (ao menos, não pelo nome). Ela enviou um email, contando o que passou em 2007. Quase morreu. Tentou fugir de um assalto ("uma reação instintiva de sobrevivência", como ela conta) e foi ferida na cabeça. Aconteceu bem perto do local onde, ontem (13 de maio), morreu o professor de inglês Igor Duque, de 28 anos. Talvez ela tenha lido, junto com a notícia do homicídio, o meu endereço eletrônico no jornal. Mas não é isso que importa. O texto de Adriana é forte e pede reflexão à gente.

Ps: Adriana, obrigada pela confiança. Desejo que reencontre a paz.

Relato da dor

Date: Thu, 14 May 2009 16:16:03 +0000
From: Adriana Ataide
To: anabraga.pe@diariosassociados.com.br
Subject: Desabafo de mais uma vítima!

Ana Braga,
Faço um desabafo como cidadã e vítima da violência de Recife.Em 28 de Novembro de 2007, às 16:00hs na av Norte, enfrente ao SESC (sentido bairro/centro) sofri uma tentativa de assalto da qual levei um tiro na cabeça!
Parei no sinal, tinha um carro na minha frente, e ví quando dois indivíduos corriam na minha direção, um deles passou e o outro veio para a frente do carro quando levantou a blusa e eu ví o cano do revólver. Numa atitude instintiva arraquei com o carro, bati no carro da frente e ainda consegui (baleada) dirigir até minha casa, que era na mesma rua onde morava o professor Igor Duque. O carro da frente me seguiu sem entender o ocorrido e com a ajuda de uma visinha minha me socorreram. Me levaram para o Agamenon Magalhães para os primeiros socorros e fui transferida para o Hospital da Unimed, onde recebi o atendimento devido.
Atuamente faço tratamento psicológico no Agamenon Magalhães (Wilma Lessa), acompanhamento neurológico e psiquiátrico. Temo todos os dias pelos meus parentes e amigos. É como se tivessem me levado a liberdade.
Hoje mais uma família foi dilascerada pela violência de Recife. Só quem passa sabe a dor!Mais uma tentativa de assalto, mais uma vítima, mais uma reação instintiva de sobrevivência, pois eu arraquei com o carro não foi por medo de que levassem os meus pertences, mas por medo de que levassem a minha vida, o que acredito que tenha acontecido com o professor quando acelerou o carro.
Somos obrigados a ver uma propaganda na TV, meramente política, dizendo que a violência diminuiu. Diminuiu onde? Na esquina das casas dos políticos que tem policiamento? Só se for, por que vemos todos os dias mais pessoas sendo vítimas e com sequelas gravíssimas, como o caso de um conhecido meu que levou um tiro no ouvido e hoje encontra-se em estado vegetativo, a policial que levou um tiro na cabeça em Abril do ano passado e está no mesmo estado.. e muitos outros casos que não tomamos conhecimento e famílias estraçalhadas pela dor!
Quando isso vai parar? Quando vão ver que a cidade anda refém da criminalidade? Somos livres, porém não temos liberdade, pois saímos e não sabemos se voltaremos para as nossas famílias.
Choro de dor por ter passado, e por ver mais uma família chorando, choro de revolta e de inconformidade.E peço sempre a Deus proteção, e peço também conforto para as famílias que estão passando por essa dor!Deixamos de ser casos isolados!Precisamos fazer alguma coisa!

Adriana