quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O Rap do Menino Invisível


Nasceu com a pele branca,
com os olhos verdes,
com a sina da miséria,
de uma história impossível.
Era tudo que tinha o menino invisível.
O pai nunca voltou no navio que embarcou.
Atropelada na rua, a mãe nunca acordou.
E na memória do menino miúdo ficou.
Ficou na corpo, na agressão,
na noite escura da morte,
nos dias negros da solidão.
Ele inventou família, fez amigos e irmão.
Não foi para abrigo, se criou na agonia.
Cresceu, viveu, resistiu no Coque, no Ibura, nas "URs", na periferia.
Era como bicho solto aquele menino Pixote.
Mas não queria aquela sina, não queria a morte.
Foi aprender na escola e ensinar no Hip Hop.
Dançou break na rua, cantou rap na rua, pintou grafite na rua.
Fez leitura nos livros, se guiou nos mestres. Luther King, Muhammed Ali, Malcom X.
Literatura, português, geografia e história.
Se formar na faculdade foi outra grande vitória.
De camelô pra funcionário, de menino pra homem.
Ele escapou daquela sina, mas não esquece do ontem.
Quer conhecer sua raiz, seu sobrenome.
Quer viajar pro Ceará.
Quer fazer outra rima pra sua paz encontrar.

Nenhum comentário: