domingo, 29 de junho de 2008

Av. Agamenon Magalhães, sem número. Sem nada

Esta é a história de um poeta, um artesão e um dedicado namorado. Os três dividem o mesmo lar: a rampa do Hospital da Restauração.

Erinaldo, Lourival e Gilberto moram juntos. O endereço é um dos mais freqüentados do Recife: Avenida Agamenon Magalhães, sem número, Derby. Todos os dias levantam com o sol e saem para ganhar a vida, com um cafezinho no estômago. São donos do próprio negócio e o ponto comercial pode ser em qualquer esquina da cidade. Erinaldo é poeta cuja obra cabe numa sacola de ráfia desgastada. "Arte incompreendida" que carrega debaixo do braço e alimenta seu pensamento. As latinhas que seu Sardinha, apelido de Lourival, transforma são brinquedo para a criança de sítio que um dia ele foi. "Deixei a casa dos meus pais quando tinha 10 anos", lembra o artesão. Gilberto, o mais velho deles, sobrevive com a "missão que Deus deixou": cuidar da namorada que, segundo ele, é portadora do HIV.

Também todas as noites os três homens voltam juntos para a casa, sempre cheia de hóspedes e visitantes, 24 horas. Dormir é a única coisa que resta para eles. É o possível num lugar que não tem teto nem paredes. O chão se inclina em rampa. Cozinha, para que, se comida só de vez em quando? Erinaldo, Lourival e Gilberto dormem e acordam no Hospital da Restauração, porque têm medo das ruas. A violência já lhes mostrou a cara nas marquises, calçadas e viadutos.

(continua na postagem abaixo)

2 comentários:

Unknown disse...

Bravo AB: clap, clap clap
Mal posso esperar pela próxima postagem!!!!

Anônimo disse...

Ana, vc faz o texto fluir gostosa e interessantemente.Parabéns. E é de uma sensibilidade incrível: me deixou arrepiada e com os olhos cheios de lágrimas.
Espero que dÊ muito certo o blog.
Beijo,
Aninha