quarta-feira, 25 de junho de 2008

Patrícia, a companheira de trabalho

Amisterdam é o cidadão, mas pode chamar também de Patrícia, que ele atende. Pendurada na traseira da carroça, a manequim de loja que um dia foi lixo na calçada da avenida da Conde da Boa Vista, hoje acompanha o catador no trabalho - e por que não na única alegria da vida dele. Todo mundo na rua repara no bom humor dos dois, que distraem os ambulantes do centro do Recife e os residentes dos bairros chiques da zona norte. A mão apontada para cima da boneca indica que ali vai um filho de Deus.

Com o corpo prateado, a boca pintada de vermelho, a peruca preta chanel e os óculos escuros, Patrícia tem guarda-roupas e tudo. São três mudas, alpercatas, sapatilhas e uma bolsa para a manequim, conta o dono. "Hoje ela tá de branco porque é sexta-feira. E eu já vi ela de vestido de cancan", fala dona Vilma Maria, dona de um fiteiro na rua Dom Vital.

Do mesmo jeito quando o pai o batizou, Amisterdam não sabe de onde tirou o nome da boneca. "Ah, logo quando eu achei ela, faz uns quatro meses, já disse logo que ia chamar ela assim. Eu queria chamar de mulher, entendeu? Mas nem lembro se foi da televisão que eu inventei", conta o catador, que percorre sem atropelos as vias estreitas do centro da cidade. Sempre que passa na rua da Praia, Amisterdam encontra uma homônima. A festa é grande quando o catador pára para cumprimentar a operadora de máquina Patrícia da Conceição. Garante Amisterdam que o nome da boneca também não foi inspirado nela. Já Patrícia, a de verdade, diz que só conhece o catador de passar na rua.

Dona Dinalva Alves, que vende ervas numa barraca em frente ao mercado de São José, já até medicou a boneca contra gripe. "A gente tem que brincar, para poder agüentar o dia-a-dia. E esse cara trabalha assim, fazendo a gente rir toda vez que passa aqui no centro. Merece ter mais", diz a comerciante.

A economia do catador - Amisterdam precisa catar 300 garrafas para ganhar R$ 10,00. Um quilo de garrafa PET custa, em média, R$ 0,30. Uma garrafa PET de dois litros pesa cerca 54 gramas. O catador tem que juntar 100 quilos de papelão para ganhar R$ 10,00. Um quilo de papelão vale menos ainda do que a PET: R$ 0,10.

Recife tem 1,5 milhão de habitantes. Essa população produz duas mil toneladas de lixo, por dia. Tudo isso vai para o Aterro da Muribeca, em Jaboatão dos Guararapes. Existem 2,5 mil catadores, segundo estimativa da Emlurb (Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana) para o Grande Recife. Apenas 120 deles são cadastrados na prefeitura.

(continua no post abaixo, Amisterdam, o cidadão)

Foto: Inês Campelo.

2 comentários:

Unknown disse...

Pow Ana, massa essa história do catador...como eu tive uma maravilhosa oportunidade de trabalhar com vários deles posso dizer que são grandes pessoas,q 'tocam' a vida numa boa, a exemplo de Amisterdam. Eu dou o maior apoio aos catadores de materiais recicláveis...eles simplesmente vivem do nosso lixo,q na realidade o lixo da gente é a renda q sustenta várias familias, q geralmente no minimo é formada por 6 pessoas.
É isso aí,vamos reciclar e vamos respeitar mais essas pessoas guerreiras.
Bjos,
M a N u

Inácio França (www.caotico.com.br) disse...

Ana,

grande idéia o foco do seu blog. Nada de olhar para o próprio umbigo. Coisa de responsa.

abraço

inácio