Se for com a letra A, tem arreio, arroz e água sanitária. Sendo B, balde, bujão e bule. Com C, o freguês encontra chocalho, chicote e cano. No D, dedal, diadema, dosador. E segue o passeio pelo alfabeto completinho, porque quase nada falta na bodega de Expedito do Beco, figura ilustre em Triunfo. Se duvidar, até para W e Y se encontra coisa no lugar, que existe também como um ponto turístico-antropológico, digamos assim, da cidade do Sertão do Pajeú, distante 451 quilômetros do Recife e mais conhecida pela temperatura amena - de média anual de 20 graus centígrados. E o danado é que Expedito do Beco vende e troca tudo na quantidade que o cliente quiser. Se o cidadão pede somente um copo de óleo de cozinhar, ele leva. "Até uma banda de chiclete eu vendo. Mas eu cobro por um inteiro", brinca o comerciante.
Prosa é o que Expedito do Beco dá de graça. Basta chegar na bodega e puxar assunto. É provável que o visitante tente matar a curiosidade de primeira: quantos artigos tem na bodega? "Quantos artigos? Ah, de número eu não sei. Mas, se for perguntando coisa por coisa, eu digo se tem ou não", confessa o comerciante de 79 anos, batizado Expedito Pereira do Nascimento, natural de Triunfo mesmo. A resposta de Expedito logo faz sentido. Quem bota os pés dentro do casarão de número 43 na esquina da Avenida José Bezerra, vê que nem o dono do Pão de Açúcar e do Extra, Abílio Diniz, daria conta do estoque.
"O mais esquisito que eu tenho aqui é um capacete". Mas esquisito mesmo é Expedito dizer isso, numa cidade onde muita gente usa motocicleta e numa bodega que tem para vender casco de bebida que não existe mais. Bom, o equipamento de proteção, usado, custa R$ 10. Os chocalhos também estão a precinhos módicos: R$ 3 e R$ 6. Pirulito é o que há de mais em conta: R$ 0,15. "Se o camarada quiser trocar, eu troco. Desde que a coisa que ele trouxe vá ter serventia para alguém. Troço véio, feito chaleira, é o que mais sai. Não posso deixar é o dinheiro escapar", conta Expedito do Beco. O sobrenome e apelido homenageiam o aperto do comércio, que existe há 25 anos no mesmo ponto.
Deus abençoe - A bodega é movimentada. Vai cliente e vai gente somente prosear com Expedito ou a filha, Roldânia, que ajuda no balcão. "A bagunça começa na minha casa. Meus filhos foram batizados de nomes estranhos. Tem Rílquia, Rislaine, Ríntia e Rosivan, que é uma mulher, mesmo sendo masculino. Só escapou Romildo", diverte-se o comerciante, enquanto Roldânia despacha uma freguesa que precisa de um pedaço de mangueira. A esposa de Expedito, a propósito, é cúmplice nessa história. Dona Maria é gentil já no sobrenome.
Em fim de tarde, quando o vaivém de mototáxi se acalma, a grade de garrafa serve de banquinho na roda de prosa ou na contemplação da vida local. Triunfo passa bem na porta da bodega: estudantes a caminho de casa, donas-de-casa em direção à padaria - que se conta numa mão quantas existem -, trabalhadores da agroindústria arrastando o passo, o sossego de uma cidade pequena, que tem cerca de 1% da população do Recife (1,5 milhão). Por isso e pela prosa Expedito do Beco não cobra. "Deus abençoe essa bagunça". É o que diz a plaquinha em madeira pendurada no balcão.
Serviço
Bodega de Expedito do Beco.
Avenida José Bezerra, 43, centro.
Telefone: (87) 3846-1271.
Triunfo, Sertão do Pajeú, Pernambuco, a 451Km do Recife.
Acessos: BR-365 e BR-232 (via Serra talhada).
População: 16 mil habitantes, aproximadamente.
Área: 192 quilômetros quadrados.
Prosa é o que Expedito do Beco dá de graça. Basta chegar na bodega e puxar assunto. É provável que o visitante tente matar a curiosidade de primeira: quantos artigos tem na bodega? "Quantos artigos? Ah, de número eu não sei. Mas, se for perguntando coisa por coisa, eu digo se tem ou não", confessa o comerciante de 79 anos, batizado Expedito Pereira do Nascimento, natural de Triunfo mesmo. A resposta de Expedito logo faz sentido. Quem bota os pés dentro do casarão de número 43 na esquina da Avenida José Bezerra, vê que nem o dono do Pão de Açúcar e do Extra, Abílio Diniz, daria conta do estoque.
"O mais esquisito que eu tenho aqui é um capacete". Mas esquisito mesmo é Expedito dizer isso, numa cidade onde muita gente usa motocicleta e numa bodega que tem para vender casco de bebida que não existe mais. Bom, o equipamento de proteção, usado, custa R$ 10. Os chocalhos também estão a precinhos módicos: R$ 3 e R$ 6. Pirulito é o que há de mais em conta: R$ 0,15. "Se o camarada quiser trocar, eu troco. Desde que a coisa que ele trouxe vá ter serventia para alguém. Troço véio, feito chaleira, é o que mais sai. Não posso deixar é o dinheiro escapar", conta Expedito do Beco. O sobrenome e apelido homenageiam o aperto do comércio, que existe há 25 anos no mesmo ponto.
Deus abençoe - A bodega é movimentada. Vai cliente e vai gente somente prosear com Expedito ou a filha, Roldânia, que ajuda no balcão. "A bagunça começa na minha casa. Meus filhos foram batizados de nomes estranhos. Tem Rílquia, Rislaine, Ríntia e Rosivan, que é uma mulher, mesmo sendo masculino. Só escapou Romildo", diverte-se o comerciante, enquanto Roldânia despacha uma freguesa que precisa de um pedaço de mangueira. A esposa de Expedito, a propósito, é cúmplice nessa história. Dona Maria é gentil já no sobrenome.
Em fim de tarde, quando o vaivém de mototáxi se acalma, a grade de garrafa serve de banquinho na roda de prosa ou na contemplação da vida local. Triunfo passa bem na porta da bodega: estudantes a caminho de casa, donas-de-casa em direção à padaria - que se conta numa mão quantas existem -, trabalhadores da agroindústria arrastando o passo, o sossego de uma cidade pequena, que tem cerca de 1% da população do Recife (1,5 milhão). Por isso e pela prosa Expedito do Beco não cobra. "Deus abençoe essa bagunça". É o que diz a plaquinha em madeira pendurada no balcão.
Serviço
Bodega de Expedito do Beco.
Avenida José Bezerra, 43, centro.
Telefone: (87) 3846-1271.
Triunfo, Sertão do Pajeú, Pernambuco, a 451Km do Recife.
Acessos: BR-365 e BR-232 (via Serra talhada).
População: 16 mil habitantes, aproximadamente.
Área: 192 quilômetros quadrados.
9 comentários:
Querida AB, adorei a idéia do blog e o texto inicial. Conte mesmo estas histórias que quase ninguém vê. É delas que se ergue a vida, não?
Beijos, Lule
Gostei da iniciativa...espero que você possa mantê-lo atualizado!
besos
Seu Expedito é mesmo fera, ele.
E essa cartilha dele é bem capaz de ensinar melhor do que a gente aprende na escola. :)
Viaja, Anabê, e traz pra gente essas boas lições todas.
Que às vezes a gente está precisado e nem sabe.
Bel
As capivaras adoraram a matéria. Mandam perguntar ao Expedito se tem milho, cana-de-açúcar, capim e um tanto de outras coisas.
Bjos,
Kel
Ahh ;-)
que gostoso...
Aguardando mais...
bjs
virei freguesa...
do blog...
porque da bodega do expedito tá meio longe...
quem sabe um dia, passando por lá...
bjks
Gostei, "tia" Aninha!!!! E pode apostar q vou recomendar...afinal:"O que é atraente e belo, nem sempre é bom, mas o que é BOM é SEMPRE BELO"(Ninon de L'Enclos)!!! Bjim na alma,"tia" Laurinha.
É,
O Sr. Expedito é realmente um figurão lá de Triunfo. Sua bodega é um arquivo vivo; um baú da memória do Nordeste. Eu estive lá para constatar a existencia de uma "bainha para foice", e acabei descobrindo que havia também "baiha para machado" - quem já viu?.
Quem for a Triunfo não deixe de visitar essa bodega pitoresca.
Saudações
Jonas
jonascorre@yahoo.com.br
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