domingo, 22 de junho de 2008

Quer comprar? Expedito do Beco tem para vender.


Se for com a letra A, tem arreio, arroz e água sanitária. Sendo B, balde, bujão e bule. Com C, o freguês encontra chocalho, chicote e cano. No D, dedal, diadema, dosador. E segue o passeio pelo alfabeto completinho, porque quase nada falta na bodega de Expedito do Beco, figura ilustre em Triunfo. Se duvidar, até para W e Y se encontra coisa no lugar, que existe também como um ponto turístico-antropológico, digamos assim, da cidade do Sertão do Pajeú, distante 451 quilômetros do Recife e mais conhecida pela temperatura amena - de média anual de 20 graus centígrados. E o danado é que Expedito do Beco vende e troca tudo na quantidade que o cliente quiser. Se o cidadão pede somente um copo de óleo de cozinhar, ele leva. "Até uma banda de chiclete eu vendo. Mas eu cobro por um inteiro", brinca o comerciante.

Prosa é o que Expedito do Beco dá de graça. Basta chegar na bodega e puxar assunto. É provável que o visitante tente matar a curiosidade de primeira: quantos artigos tem na bodega? "Quantos artigos? Ah, de número eu não sei. Mas, se for perguntando coisa por coisa, eu digo se tem ou não", confessa o comerciante de 79 anos, batizado Expedito Pereira do Nascimento, natural de Triunfo mesmo. A resposta de Expedito logo faz sentido. Quem bota os pés dentro do casarão de número 43 na esquina da Avenida José Bezerra, vê que nem o dono do Pão de Açúcar e do Extra, Abílio Diniz, daria conta do estoque.

"O mais esquisito que eu tenho aqui é um capacete". Mas esquisito mesmo é Expedito dizer isso, numa cidade onde muita gente usa motocicleta e numa bodega que tem para vender casco de bebida que não existe mais. Bom, o equipamento de proteção, usado, custa R$ 10. Os chocalhos também estão a precinhos módicos: R$ 3 e R$ 6. Pirulito é o que há de mais em conta: R$ 0,15. "Se o camarada quiser trocar, eu troco. Desde que a coisa que ele trouxe vá ter serventia para alguém. Troço véio, feito chaleira, é o que mais sai. Não posso deixar é o dinheiro escapar", conta Expedito do Beco. O sobrenome e apelido homenageiam o aperto do comércio, que existe há 25 anos no mesmo ponto.

Deus abençoe - A bodega é movimentada. Vai cliente e vai gente somente prosear com Expedito ou a filha, Roldânia, que ajuda no balcão. "A bagunça começa na minha casa. Meus filhos foram batizados de nomes estranhos. Tem Rílquia, Rislaine, Ríntia e Rosivan, que é uma mulher, mesmo sendo masculino. Só escapou Romildo", diverte-se o comerciante, enquanto Roldânia despacha uma freguesa que precisa de um pedaço de mangueira. A esposa de Expedito, a propósito, é cúmplice nessa história. Dona Maria é gentil já no sobrenome.

Em fim de tarde, quando o vaivém de mototáxi se acalma, a grade de garrafa serve de banquinho na roda de prosa ou na contemplação da vida local. Triunfo passa bem na porta da bodega: estudantes a caminho de casa, donas-de-casa em direção à padaria - que se conta numa mão quantas existem -, trabalhadores da agroindústria arrastando o passo, o sossego de uma cidade pequena, que tem cerca de 1% da população do Recife (1,5 milhão). Por isso e pela prosa Expedito do Beco não cobra. "Deus abençoe essa bagunça". É o que diz a plaquinha em madeira pendurada no balcão.

Serviço
Bodega de Expedito do Beco.
Avenida José Bezerra, 43, centro.
Telefone: (87) 3846-1271.
Triunfo, Sertão do Pajeú, Pernambuco, a 451Km do Recife.
Acessos: BR-365 e BR-232 (via Serra talhada).
População: 16 mil habitantes, aproximadamente.
Área: 192 quilômetros quadrados.

9 comentários:

Anônimo disse...

Querida AB, adorei a idéia do blog e o texto inicial. Conte mesmo estas histórias que quase ninguém vê. É delas que se ergue a vida, não?
Beijos, Lule

z disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Gostei da iniciativa...espero que você possa mantê-lo atualizado!
besos

z disse...

Seu Expedito é mesmo fera, ele.
E essa cartilha dele é bem capaz de ensinar melhor do que a gente aprende na escola. :)

Viaja, Anabê, e traz pra gente essas boas lições todas.
Que às vezes a gente está precisado e nem sabe.

Bel

Zoiuda disse...

As capivaras adoraram a matéria. Mandam perguntar ao Expedito se tem milho, cana-de-açúcar, capim e um tanto de outras coisas.

Bjos,

Kel

Anônimo disse...

Ahh ;-)
que gostoso...
Aguardando mais...
bjs

Tell Aragão disse...

virei freguesa...
do blog...
porque da bodega do expedito tá meio longe...
quem sabe um dia, passando por lá...
bjks

Anônimo disse...

Gostei, "tia" Aninha!!!! E pode apostar q vou recomendar...afinal:"O que é atraente e belo, nem sempre é bom, mas o que é BOM é SEMPRE BELO"(Ninon de L'Enclos)!!! Bjim na alma,"tia" Laurinha.

Jonas disse...

É,
O Sr. Expedito é realmente um figurão lá de Triunfo. Sua bodega é um arquivo vivo; um baú da memória do Nordeste. Eu estive lá para constatar a existencia de uma "bainha para foice", e acabei descobrindo que havia também "baiha para machado" - quem já viu?.
Quem for a Triunfo não deixe de visitar essa bodega pitoresca.
Saudações
Jonas

jonascorre@yahoo.com.br