quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O homem "abençoado"

    Ainda que fosse possível prever, ninguém daria a dimensão exata. A tragédia do Haiti e suas consequências ultrapassam qualquer exercício de imaginação, adivinhação, premonição. Até mesmo de quem já enfrentou desafios em que sobreviver é um verdadeiro milagre.

Tenente-coronel Almir da Rocha vai chefiar força-tarefa pernambucana no Haiti. Foto: Juliana Leitão/DP/.A Press
 Um telefonema, uma ordem pode ser dada a qualquer momento, para que 28 homens do Corpo de Bombeiros de Pernambuco embarquem rumo ao Haiti. Entre eles, está o tenente-coronel Almir da Rocha Silva, de 39 anos. Aos 24 de carreira, ele irá chefiar essa força-tarefa, especializada em busca, salvamento e ações táticas. A equipe partirá numa missão histórica para a corporação. Uma missão que eles jamais imaginaram.
    "Eu poderia levar muito mais homens, mas, considerando o cenário complexo, a especificidade do trabalho e o tempo de afastamento, 28 homens é um bom efetivo", diz o tenente-coronel do Grupamento de Busca, Salvamento e Ações Táticas dos Bombeiros de Pernambuco, Almir da Rocha, responsável por selecionar e comandar a equipe da força-tarefa no Haiti. "O grupamento como um todo tem 120 homens. É um efetivo de respostas especiais, que possui treinamentos em áreas que outros bombeiros não têm. Estou buscando mesclar profissionais com capacitação em estruturas colapsadas com atendimento hospitalar", explica oficial, cuja experiência inclui as tragédias dos edifícios Areia Branca e Serrambi. O grupamento foi formado há um ano e meio, para trabalharr sobretudo nas emergências de desabamento do estado. Há também homens especializados em inundações e ambientes confinados.
    "A gente não pode sair daqui achando que vai encontrar facilidade, que vai encontrar água, energia, lugar para dormir e trocar de roupa. A gente vai viajar com a logística completa", conta Rocha. O aparato tecnológico será fundamental na força-tarefa. "Tem grandes montes de concreto e ferro. Mas não adianta a gente investir toda a energia em ações manuais e máquinas pesadas, supondo que existe alguém sob os escombros ou algum corpo. Algumas ações precisarão de delicadeza", observa o oficial. Câmeras de vídeo ajudarão a localizar vítimas entre os destroços. "Será parecido com o que faz uma câmera de videolaparoscopia", explica.
    A equipe está ansiosa para viajar. "Mas a gente não pode deixar a emoção sobrepor os protocolos e as práticas, para não comprometer a resposta", admite Rocha, pai de quatro filhos, "todos loucos pelos Bombeiros", e casado com uma médica do Samu, que ele conheceu "na rua, salvando gente". "É necessário ter calma. O cenário do Haiti não vai mudar de um dia para o outro. Existem missões do mundo inteiro a postos. A gente vai esperar. Mas será difícil dormir esses dias, esperando um telefonema ordenando 'embarquem todos'", confessa o oficial. "No mínimo, uniremos 28 histórias de vida", diz o bombeiro que a cada novo desafio, confirma que o seu serviço é "abençoado".



Texto publicado no Diario de Pernambuco, de 15 de janeiro de 2010, página A12.

Um comentário:

Paula Brasileiro disse...

Boa sorte a esse bravos homens e que Deus abençoe o trabalho deles.